sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O meu inter-rail; 2º capítulo: "Vigo"



Tendo chegado a Vigo ao fim da tarde, apanhado o comboio para Barcelona ao fim da tarde e levando em consideração que esses dois fins de tarde ocorreram no mesmo dia, seria de esperar que não ocupasse qualquer linha desta reflexão a falar dessa cidade onde não passei nem uma hora do meu inter-rail. No entanto, por respeito à sua importância histórica na vida dos habitantes do Entre-Douro-e-Minho, não a poderia deixar de fora deste relato sentimental. Vigo foi o destino de milhares de romarias consumistas antes da abertura do El Corte Inglés de Vila Nova de Gaia e ainda é o destino de milhares de romarias “Hangover” style dedicadas a nubentes e organizadas pelos seus amigos. Encaixando com alguma habilidade na modéstia de espírito e de carteira do nortenho, é a nossa Las Vegasinhas*. Além disso, e não deixando de aproveitar o espaço aberto pela utilização desse interessante verbo que é o “encaixar”, importa também referir que foi nessa importante cidade pesqueira** que, numa bonita noite de Novembro de 1999, se encaixaram 7 deliciosos remates na baliza do Benfica, aumentando ainda mais a sua reputação de animadora de portuenses. Adivinhasse eu que tal jogo teria lugar num futuro próximo e teria cumprido peregrinação antecipada ao parque de diversões de Balaídos no pequeno intervalo entre os dois fins de tarde referidos na primeira linha deste texto. Como não adivinhei, pedi ao gajo que me deu boleia (é meu amigo mas às vezes trato-o por gajo ou por “meu caralho”) que me levasse directamente à estação da RENFE onde, munido do meu “passe que permite andar gratuitamente durante um mês nos comboios de todos os países europeus excepto naquele em que nasceste”, me enfiei sem demora na locomotiva com destino a Barcelona. Apesar de ter prometido resumir essa etapa neste segundo capítulo, vou-me marimbar para a promessa e deixar esse relato para o próximo texto. Até porque o “passe que permite andar gratuitamente durante um mês nos comboios de todos os países europeus excepto naquele em que nasceste” acabou por mostrar ter mais particularidades a necessitar de explicação do que aquelas que seriam de esperar de um “passe que permite andar gratuitamente durante um mês nos comboios de todos os países europeus excepto naquele em que nasceste”. É tudo uma cambada de ladrões é o que é…

(continua)




* acham que Las Vigos teria potencial como marca? A minha mulher diz que sim, para borrachões e putanheiros. Vou pensar melhor no assunto e depois vê-se.  


** o espírito de cidade pesqueira está bem representado neste magnífico monumento de enorme valor. Falo de valor sentimental para mim e não de valor propriamente dito em termos artístico-culturais, embora suspeite que o mesmo possa acumular os dois, suspeita que poderia confirmar rapidamente através de uma pesquisa rápida no Google que efectuaria escrevendo o nome do monumento na caixa de pesquisa (sei o nome de cor, chama-se “Los Rederos”) e descobrindo a partir daí o nome do escultor que a fez e o seu valor no financeiramente saudável mercado internacional de arte. Levar a cabo essa tarefa demoraria menos tempo do que o que estou a gastar a descrever a maneira como se leva a cabo essa tarefa mas não teria metade da piada e deixava-vos sem nada para investigarem pelos vossos próprios meios.




Voltando ao valor sentimental da obra importa esclarecer a sua origem dado que não encontrarão essa informação no Google. Vi-a pela primeira vez na adolescência, acompanhado de outros adolescentes meus amigos, na primeira vez que saí de Portugal liberto da companhia dos meus pais. O que levou a que tivesse memorizado esse episódio, quando nem sequer envolveu a visualização de gajas, foi a belíssima e gigantesca troca de argumentos que se desenvolveu no sopé da estátua e que pode ser assim resumida: um dos mancebos, que se encontrava imbuído de um forte desejo de desenvolver a musculatura e que acumulava a prática de flexões, elevações, agachamentos e o caralho com a aquisição periódica de revistas de musculação, olhando para os 7 colossais marinheiros a puxar uma rede de pesca afirma convictamente que alguns dos gajos que apareciam nessas revistas, desde que devidamente pintados de preto, poderiam ser infiltrados sorrateiramente no monumento sem que tal levantasse a mínima desconfiança por parte da população da cidade, análise a que os restantes excursionistas responderam com um sonoro “o caralho é que poderiam, deixa de gastar dinheiro nessas paneleirices e compra mas é a Gina”. Esta primeira contra-argumentação, de carácter mais geral, foi depois completada com pormenorizadas considerações sobre as dimensões sobre-humanas daqueles glúteos, bíceps, trapézios, deltóides, dorsais, adutores, tríceps e gémeos, contra-argumentação que foi rebatida com um “verdade, pá, aqueles gajos que aparecem na Muscle & Fitness não são bem humanos”, que deu por sua vez origem a uma contra-contra-contra-argumentação e assim sucessivamente até à hora de regressar à camioneta. Para aqueles que não acreditam que é por causa deste debate de ideias que nutro pelo monumento um grande carinho deixo a opção de se agarrarem a uma qualquer teoria relacionada com a importância da conquista pelos adolescentes de espaço físico em relação aos seus progenitores.

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