quinta-feira, 13 de março de 2014

estruturadores reestruturando a estrutura



A única maneira segura de limpar um campo de minas, é conseguir convencer os militares que participaram no trabalho de colocação dos engenhos a participarem posteriormente no trabalho de remoção dos mesmos. Esta grande verdade militar, que só não foi desenvolvida por Sun Tzu por manifesto esquecimento, nem sempre pode ser aplicada devido à ausência de espírito de colaboração de alguns soldados ou, em certos casos, à circunstância de eles já não se encontrarem vivos. Felizmente para nós, alguns dos valentes compatriotas que minaram as nossas finanças e economia com dívidas explosivas ainda se encontram de boa saúde e com vontade de participar no difícil e arriscado trabalho de desminagem que está em curso. É assim de louvar o recente “Manifesto pela Reestruturação da Dívida”, onde algumas das personalidades que nos foram dizendo nos últimos anos que precisávamos de pedir empréstimos para fomentar o crescimento, nos dizem agora que só podemos crescer se não pagarmos esses empréstimos que pedimos.

Sabendo que a característica má-língua dos portugueses se prepara para acusar estas figuras de altíssimo nível de terem o secreto desejo de dar um baixíssimo calote, consultei o dicionário com o intuito de iluminar de sabedoria as mentes de tão ignorante povo. Ficam pois desde já a saber que “reestruturar” não é mais do que estruturar novamente e que “estruturar” é apenas o acto de dotar algo com uma estrutura. Para melhor entenderem o que está em causa tentem lembrar-se da vossa casa: quando tomaram a decisão de a construir tiveram de chamar um projectista que a dotasse de uma estrutura. Imaginem agora que a vossa família cresce e que por isso se torna necessário acrescentar-lhe um novo piso com mais quartos. Quem é a pessoa indicada para tratar desse processo? Um novo profissional ou o mesmo técnico que a desenhou de raiz e que por isso sabe com exactidão onde se encontram e como estão construídas as fundações, sapatas, vigas, pilares, paredes mestras e muros de suporte? Naturalmente que, estando ele vivo e mostrando disponibilidade para o trabalho, a vossa escolha recairá no projectista inicial. Assim, o homem que no passado estruturou a coisa tratará agora de a reestruturar. O que acontece com este Manifesto, para grande sorte do país, é bastante parecido. As assinaturas de João Cravinho, pai das SCUT e grande promotor de PPP e de mega-projectos, e de João Galamba, ferrenho defensor do investimento público e um dos principais conselheiros do ex-Primeiro-Ministro José “aumentamos o défice porque quisemos” Sócrates, são a prova de que os portugueses podem estar descansados. Quem estruturou a dívida não se esquiva à difícil tarefa de a reestruturar, os nossos projectistas estão vivos e com vontade de trabalhar.            

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